Minerva, o símbolo da UFRJ há 100 anos
Conheça mais sobre a figura icônica que recebe a comunidade acadêmica no bloco K do CCS

Ao adentrar o Bloco K do Centro de Ciências da Saúde (CCS), a comunidade universitária é recepcionada por uma grande escultura da deusa Minerva, principal símbolo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Quase todos os dias, formandos com diplomas, calouros e servidores recém-empossados posam para fotos, orgulhosos, ao lado da obra de arte. Mas você sabe por que a Minerva é o ícone da UFRJ?

Representada em um majestoso medalhão, a deusa romana da sabedoria não apenas simboliza a instituição, mas revela séculos de significado mitológico e uma história centenária dentro da Universidade. Em comemoração aos 105 anos da UFRJ, celebrados em 7/9, e aos 100 anos desta imagem icônica, o CCS faz um levantamento sobre sua trajetória, desde a escolha até a forma como é vista hoje: uma narrativa de arte, simbologia e identidade.
A história começa em 1925, quando o Conselho Universitário (Consuni) da então Universidade do Rio de Janeiro selecionou, por meio de um concurso, o símbolo que representaria a instituição. O vencedor foi o artista e professor da Faculdade Nacional de Direito, Raul Paranhos Pederneiras. Seu esboço trazia a figura de Minerva num trono, com um friso na parte inferior, e a perspectiva da entrada da Baía do Rio de Janeiro.
Nas décadas seguintes, a representação da deusa foi se transformando. Suspeita-se que em 1952 ela tenha adquirido a forma de um medalhão em perfil, modelado em gesso e baixo-relevo. No entanto, foi na década de 1990 que a Minerva ganhou a imponente forma tridimensional e tão conhecida nos dias de hoje. O responsável por essa transformação foi o professor Joaquim de Lemos e Sousa, um artífice célebre da UFRJ.


Em 1993, o então reitor Nelson Maculan Filho confiou a Joaquim a missão de unificar o símbolo oficial da instituição. Espalhadas pelos campi, existiam nada menos que 16 versões diferentes do perfil da deusa. Joaquim, então professor titular de Escultura, embarcou em uma pesquisa minuciosa. Ele reinterpretou e sintetizou as versões existentes, agregando-lhes tridimensionalidade por meio de técnicas de baixo e alto-relevo.
O resultado desse meticuloso trabalho foi uma efígie cheia de significados.

Na escultura final, Minerva é vista de perfil, com o rosto voltado para leste, de onde o sol nasce, e olhar mirando o horizonte. No braço direito, ela apoia uma lança (1) – a oeste –, simbolizando a estratégia de guerra e funcionando como um pilar entre o céu e a terra. Seu elmo, ao norte, é adornado com Pégaso (2), o cavalo alado da imortalidade; e o carneiro que representa sua relação conflituosa com Pã (3). No peitoral de sua armadura, ao sul, está a cabeça da Medusa, um amuleto contra a morte, ladeado por duas serpentes que conectam a deusa ao mundo subterrâneo (4). Ao fundo, o cenário é carioca: a constelação do Cruzeiro do Sul (5) e o Pão de Açúcar (6).


Entre 1994 e 2000, réplicas do medalhão, medindo 2,70m de altura por 2m de largura, foram instaladas em pontos estratégicos da Universidade. Uma delas está posicionada na entrada do Bloco K do CCS. As outras cópias podem ser encontradas no hall do edifício Jorge Machado Moreira (JMM), na entrada do bloco A do Centro de Tecnologia (CT), na Entrada 2 da Cidade Universitária, no salão do Conselho Universitário e no antigo gabinete da Reitoria (também no JMM).

Joaquim de Lemos e Sousa, que faleceu em 2016, era um mestre da forma. Ingressou na UFRJ em 1964 por uma prova prática, demonstrando que seu talento como escultor falava mais alto que uma formação acadêmica tradicional. Ele conjugava a experiência de um artífice prático – tendo começado a trabalhar com o pai na composição de altares religiosos aos sete anos – à erudição de um professor emérito, título que recebeu da Escola de Belas Artes (EBA) em 2002.

Em artigo de Waldelice Souza, Benvinda de Jesus Ferreira Ribeiro, professora de Conservação e Restauração da EBA e ex-aluna de Joaquim, destaca a representação perfeita de Minerva para a Universidade. “Observa-se que o tipo de conhecimento, de sabedoria que ela propicia, é aquele que desbrava, descobre caminhos, que traça estratégias para que a vida prevaleça. Creio ser este o papel da Universidade pública”, reflete.
Para Aurea Chagas, coordenadora de Acervos Culturais do CCS, a escultura representa simbolicamente toda a trajetória da Universidade. Desde o momento de sua escolha até o resultado estético atual, o percurso mostra o tempo e a dedicação de um grande mestre artístico e de muitos outros servidores e alunos.
"Ter a Minerva nos corredores do CCS é ter o coração da UFRJ. Seus atributos nos lembram de estarmos prontos, protegidos e capazes de nascer das adversidades", conclui.
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